UM CÂNTICO PARA SIMEÃO
T. S. Eliot


Senhor, os jacintos romanos estão florindo nos vasos
E o sol do inverno resvala sobre as colinas de neve.
Rendeu-se a quadra obstinada.
Minha vida é luz, à espera do sopro da morte,
Tal uma pluma no dorso de minha mão.
A poeira entre os raios de sol e a memória nos cantos
Aguardam o vento que esfria rumo à terra morta.
Concede-nos tua paz.
Muitos anos caminhei nesta cidade,
Guardei fé e jejum, poupei para os pobres,
De e recebi honra e conforto.
Ninguém jamais de minha porta repeli.
Quem se recordará de minha casa, onde viverão os filhos de meus filhos
Quando vier o tempo do infortúnio?
Buscarão eles a trilha da cabra e a toca da raposa,
Esquivando-se às faces e às espadas forasteiras.
Antes do tempo das cordas e dos flagelos e dos lamentos
Concede-nos tua paz.
Antes das estações na montanha da desolação,
Antes da hora certa da aflição materna,
Agora, nesta quadra em que morte se avizinha,
Possa o Infante, o Verbo inexpresso e impronunciado ainda,
Conceder a consolação de Israel
A quem tem oitenta anos e nenhum amanhã
Conforme tua palavra.
Eles Te haverão de exaltar e de sofrer em cada geração
com glória e escárnio,
Luz sobre luz, galgando a escada dos santos.
Não para mim o martírio, o êxtase do pensamento e da prece,
Não para mim a última visão.Concede-me tua paz.
(E uma espada trespassará teu coração,
o teu também.)
Estou cansado de minha vida e da vida dos que virão depois de mim,
Estou morrendo de minha morte e da morte dos que virão depois de mim.
Deixa partir teu servo,
Após ter visto tua salvação.
Do livro “POESIA” - Edição Comemorativa - Editora Nova Fronteira


CETRO
Carlos Nejar

Tens de meu reino, o cetro.
Tudo o que me sucede
é futuro em tua rede.

Estás no princípio
e fim. Mais forte
que as coisas
que estão em mim.

Do livro “Todas as Fontes Estão em Ti”, Editora Eclesia