OS HOMENS OCOS [Parte 1]
T. S. Eliot

Nós somos os homens ocos
Os homens empalhados
Uns nos outros amparados
O elmo cheio de nada. Ai de nós!
Nossas vozes dessecadas,
Quando juntos sussuramos,
São quietas e inexpressas
Como o vendo na relva seca
Ou pés de ratos sobre cacos
Em nossa adega evaporada

Fôrma sem forma, sombra sem cor,
Força paralisada, gesto sem vigor;

Aqueles que atravessaram
De olhos retos, para o outro reino da morte
Nos recordam - se o fazem - não como violentas
Almas danadas, mas apenas
Como os homens ocos
Os homens empalhados.


MANHÃ À JANELA
T. S. Eliot

Ha um tinir de louças de café
Nas cozinhas que os porões abrigam,
E ao longo das pisoteadas bordas da rua
Penso nas almas úmidas das domésticas
Brotando melancólicas nos portões das áreas de serviço.

As fulvas ondas da neblina me arremessam
Retorcidas faces do fundo da rua,
E arrancam de uma passante com saias enlameadas
Um sorriso sem destino que no ar vacila
E se dissipa rente ao nível dos telhados.



UM CÂNTICO PARA SIMEÃO
T. S. Eliot


Senhor, os jacintos romanos estão florindo nos vasos
E o sol do inverno resvala sobre as colinas de neve.
Rendeu-se a quadra obstinada.
Minha vida é luz, à espera do sopro da morte,
Tal uma pluma no dorso de minha mão.
A poeira entre os raios de sol e a memória nos cantos
Aguardam o vento que esfria rumo à terra morta.
Concede-nos tua paz.
Muitos anos caminhei nesta cidade,
Guardei fé e jejum, poupei para os pobres,
De e recebi honra e conforto.
Ninguém jamais de minha porta repeli.
Quem se recordará de minha casa, onde viverão os filhos de meus filhos
Quando vier o tempo do infortúnio?
Buscarão eles a trilha da cabra e a toca da raposa,
Esquivando-se às faces e às espadas forasteiras.
Antes do tempo das cordas e dos flagelos e dos lamentos
Concede-nos tua paz.
Antes das estações na montanha da desolação,
Antes da hora certa da aflição materna,
Agora, nesta quadra em que morte se avizinha,
Possa o Infante, o Verbo inexpresso e impronunciado ainda,
Conceder a consolação de Israel
A quem tem oitenta anos e nenhum amanhã
Conforme tua palavra.
Eles Te haverão de exaltar e de sofrer em cada geração
com glória e escárnio,
Luz sobre luz, galgando a escada dos santos.
Não para mim o martírio, o êxtase do pensamento e da prece,
Não para mim a última visão.Concede-me tua paz.
(E uma espada trespassará teu coração,
o teu também.)
Estou cansado de minha vida e da vida dos que virão depois de mim,
Estou morrendo de minha morte e da morte dos que virão depois de mim.
Deixa partir teu servo,
Após ter visto tua salvação.
Do livro “POESIA” - Edição Comemorativa - Editora Nova Fronteira


CETRO
Carlos Nejar

Tens de meu reino, o cetro.
Tudo o que me sucede
é futuro em tua rede.

Estás no princípio
e fim. Mais forte
que as coisas
que estão em mim.

Do livro “Todas as Fontes Estão em Ti”, Editora Eclesia